Como diria Arnaldo Antunes, a coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer. E certamente o poeta tem razão.
Até pouco tempo, considerava-se o envelhecimento uma doença; chegar aos 70 anos era uma vitória e, a partir deste ponto, todos os anos que se seguiam era lucro. Felizmente, o que temos assistido são estudos que mostram que a história pode ser outra. Hoje o que se discute são as possibilidades de gozar vida saudável a serem apresentadas para nós, incluindo-se assim todo o percurso de uma vida. Do bebê ao idoso.
Com o envelhecimento, ocorrem alterações na organização do tecido conjuntivo. Ora por conta de estilos de vida, ora por condições das mudanças internas caracterizadas como do próprio organismo em envelhecimento. Diversos estudos têm mostrado que a preparação da fáscia é importante para chegar às idades mais avançadas com qualidade de vida. No post de hoje, vamos falar sobre os benefícios que podem ser observados pelos exercícios da fáscia na
Terceira Idade.
Dois vilões: má postura e doenças degenerativas:
Dores crônicas tem sido referidas nas reclamações mais ouvidas pelos médicos, fisioterapeutas e educadores físicos em seus espaços de trabalho, ao receberem pessoas com mais de 65 anos. Entre as mais diversas questões e incômodos presentes são dores ou perdas funcionais de articulações, força, equilíbrio, coordenação. Mas, também, o processo de sedentarismo junto ao envelhecimento tem sido apontado como um ambiente cultural associado a um
desconhecimento do que é envelhecer. O que muda em nós? O tempo ou culturas e hábitos já coletivizados com respeito ao avanço da idade?
Hoje nosso maior risco é considerar o envelhecimento como uma perda de potência ou de disfunções do corpo. O que podemos inferir sobre: postura, força, flexibilidade, habilidade em se deslocar? O que muda em nós com o tempo? Com certeza, já sabemos que o sedentarismo é uma vida pouco atenta aos cuidados de si, que influencia diretamente em nossa continuidade de vida. MAS, O QUE SE SABE SOBRE O ENVELHECIMENTO?
Papel da fáscia no desempenho motor
A morfologia do tecido conjuntivo pode desempenhar um papel importante na mecânica locomotora.
Estudo recente revelou associação entre a espessura da fáscia aumentada e a flexibilidade articular reduzida em pacientes com dor crônica. A pesquisa envolveu mulheres jovens e idosas, que passaram por testes de extensibilidade, alcance, flexão e extensão lombar.
A primeira evidência indicou que a espessura da fáscia difere substancialmente entre os dois grupos; enquanto as pessoas jovens têm um tecido conjuntivo mais espesso nos membros inferiores, as idosas apresentam maior espessura fascial na região lombar. Os resultados também sugerem uma possível influência na área da fáscia transversal na flexibilidade como um todo, que pode ser explicada pela rigidez do tecido e pelas características do fluido.
Estes estudos recentes demonstram como terapeutas físicos podem ajudar os pacientes idosos a alterarem seus comportamentos, seja por que sentem menos dores, ou porque ficam mais seguros e podem recuperar sua autoconfiança para exercer atividades diárias. Devolver a eles maior mobilidade e independência de familiares e possíveis cuidadores está de mãos dadas ao conhecimento de como funcionamos e de como podemos vir a interferir em nós mesmos.
Entre os benefícios a serem desfrutados pelos mais idosos que sempre se movimentaram,
estão:
- Maior mobilidade
- Flexibilidade
- Equilíbrio
- Melhora postural
- Redução de dores crônicas
- Mais autonomia
- Segurança para atividades diárias
- Autoestima mais elevada
- Redução de disfunções cardiovasculares, respiratórias, hormonais, etc.
Exercícios recomendados
Para pacientes que já atingiram a terceira, quarta, quinta, sexta idade são recomendados os alongamentos em longas cadeias, balanceios, exercícios proprioceptivos, exercícios pliométricos. Obviamente, tudo precisa ser feito dentro do limite de cada indivíduo. Quando há alguma restrição, como artroses, osteoporoses, dores articulares, entre outras, devemos ficar atentos antes de definir as melhores estratégias.
É importante ressaltar que, desde nossos primeiros passos, exercitamos a fáscia. Um indivíduo que sempre se exercitou e se manteve distante de uma vida sedentária, ao chegar na idade mais avançada, terá muitos dos benefícios em sua quase integralidade dos movimentos corporais: coordenação, propriocepção, interocepção, mobilidade, flexibilidade, força e resistência.
A vida muda, mas aquelas pessoas que nunca se movimentaram, certamente enfrentarão mais dificuldades ligadas ao envelhecimento. Por isso, se você ainda não começou, faça isso hoje 😀
Referência bibliográfica
Jan Wilke, Veronica Macchi¹,2 Raffaele De Caro² e Carla Stecco²; Fascia thickness, aging and
flexibility: is there na association?; J. Anat. (2019) 234, pp43–49
1. Departamento de Medicina do Esporte da Universidade de Goethe, Frankfurt,
Alemanha
2. Departamento de Medicina Molecular, Instituto de Anatomia Humana, Universidade
de Padova, Itália